Dinheiro Sujo é a primeira obra do escritor Lee Child e que apresenta o personagem Jack Reacher como protagonista e narrador da estória. Reacher é apresentado como um ex-militar de aproximadamente 36 anos e que não possui residência fixa, nem carro e nem telefone. Foi criado dentro de bases militares americanas espalhadas pelo mundo tendo ficado poucos meses em cada lugar devido ao fato de seus pais também terem sido militares. Sua principal atuação foi como investigador especial da polícia do exército tendo alcançado o posto de Major. Depois que foi dispensado de suas obrigações decidiu que experimentaria pela primeira vez a liberdade de ir para onde quisesse e pelo tempo que julgasse interessante. Essa liberdade também dizia respeito a não se sujeitar a ter um patrão num emprego fixo, residência, e nem nada que lhe obrigasse a fazer o que não quisesse.
Depois de 6 meses experimentando essa liberdade foi parar no lugar errado e na hora errada. Curioso com a história de Blind Blake, um velho bluesman, desce de um ônibus no meio da estrada e segue a pé para Margrave, estado da Geórgia, EUA, onde policiais corruptos locais o utilizam como bode espiatório para encobrir os esquemas sujos que aconteciam por ali acusando-o de autor do assassinato que ocorrera na última noite. A tramóia toda só não dá certo porque Reacher tem experiência, grande capacidade de dedução, se envolve totalmente ao descobrir a morte de seu irmão que investigava o caso, e contou com a ajuda de dois policiais que não faziam parte do esquema sujo que envolvia toda a cidade: o investigador-chefe Finlay, que estava na cidade há apenas 6 meses, e a policial Roscoe, com a qual vive um breve romance.
A narrativa mostra o desenvolvimento da investigação que o protagonista faz, incluindo os erros de julgamento que se dão naturalmente pela falta de elementos e a consequente evolução que vai se construindo até o ponto de desmascarar e demolir um esquema criminoso complexo de falsificação de dinheiro. Cada detalhe importa. O protagonista percebe, por exemplo, que ao invés de diferenciar um brutamontes de um cara franzino através de uma descrição complexa e precisa, bastava saber que um usava óculos e o outro não (cena da cadeia).
Para mim a leitura não fluiu muito até chegar aos 70%, quando senti que todas as pontas que foram apresentadas começaram a se amarrar aumentando finalmente o meu interesse pela trama. Nos 15% finais eu finalmente estava bem envolvido e curioso pelo desfecho que me irritava com qualquer pequena interrupção na minha leitura. E o final não decepcionou. Durante a leitura cheguei a achar que não gostaria do livro mas ao final me senti recompensado pela minha paciência. O final de uma estória é tudo. É o que mais conta pra dizer se valeu a pena. É o motivo de achar que uma estória merece ser contada, ou lida. A trama começa com Reacher tentando provar sua inocência, passa pela descoberta da morte de seu irmão que investigava o esquema, terminando com uma vingança bem sucedida. Nada original, mas vingança é uma motivação que sempre funciona.
Para quem torcia pelo romance, ao final Roscoe queria investir e trabalhar pela reconstrução da cidade e Reacher, ao contrário, queria distância de tudo aquilo: de ter de lidar com gente falsa, politicagem, manter as aparências, se estabelecer, ter endereço. Roscoe e ele se tornaram incompatíveis. Havia também a sua previsão de que ao se expor por mais tempo na cidade acabaria novamente preso e perderia pelo menos uns 2 anos detido até conseguir se explicar. Perder novamente a sua liberdade não era uma opção, então a estória termina com Reacher pegando um ônibus em direção ao outro lado do país, novamente sem mala, sem telefone, sem endereço.